Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do país, estabeleceram um acordo de cooperação. A principal estratégia envolve a unificação dos advogados das organizações, com o objetivo de influenciar decisões e flexibilizar regras dentro do sistema penitenciário federal.

A facção Bonde do Maluco (BDM), que tem forte atuação na Bahia e já mantém relações próximas com o PCC, pode ser diretamente impactada por essa aliança. Com a nova configuração entre PCC e CV, cresce a especulação sobre uma possível aproximação do BDM com o Comando Vermelho.

Por que o BDM pode se aliar ao CV?

Historicamente, o BDM tem sido um dos principais aliados do PCC no estado da Bahia, ajudando a consolidar o domínio da facção paulista na região. No entanto, o cenário pode mudar diante da recente trégua entre PCC e CV. Caso as duas grandes facções optem por uma colaboração mais ampla, o BDM poderia repensar sua posição estratégica e até mesmo estreitar relações com o CV.

A possível união das facções na Bahia teria impacto direto na dinâmica do crime organizado no estado, influenciando o tráfico de drogas, disputas territoriais e até mesmo o controle dentro do sistema penitenciário local.

O que prevê o acordo entre PCC e CV?

De acordo com o relatório da Senappen, um dos principais objetivos do acordo entre PCC e CV é fortalecer o lobby dentro do sistema penitenciário federal. A unificação dos advogados das duas facções permitiria pressionar autoridades para afrouxar restrições impostas a líderes criminosos presos.

Entre as mudanças desejadas, estão:
– Permissão para visitas com contato físico dentro das unidades prisionais federais;
– Maior flexibilidade na comunicação entre presos e o mundo exterior;
– Redução da rigidez nas regras disciplinares aplicadas nas penitenciárias federais.

Atualmente, os detentos dessas unidades cumprem penas em regime disciplinar diferenciado, permanecendo isolados em celas individuais e tendo direito a apenas duas horas de banho de sol por dia, sem acesso a televisão, rádio ou jornais.

O futuro da aliança entre facções

Se a cooperação entre PCC e CV continuar avançando, o crime organizado no Brasil poderá passar por uma reorganização significativa. O BDM, como um dos principais braços do tráfico na Bahia, terá de escolher se mantém sua fidelidade ao PCC ou se considera novas alianças com o CV.

A movimentação das facções nos próximos meses será determinante para entender se a Bahia será palco de uma nova configuração do crime organizado ou se as disputas territoriais continuarão da mesma forma.

Como mostramos, o Comando Vermelho e o PCC selaram uma “trégua” negociada desde 2019.

Há cinco anos, o chefe do CV, Marcinho VP, e o líder do PCC, Marcola, discutiam os termos do acordo que incluirá o compartilhamento de rotas de escoamento de cocaína no país.

Os dois trajetos que serão compartilhados são a rota Caipira, que leva drogas produzidas em países sul-americanos pelo interior de São Paulo e Triângulo Mineiro até a África e Europa, além da rota Solimões, no Amazonas, comandada pelo Comando Vermelho.

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeaco) do Ministério Público de Paulo, a “trégua” entre as duas organizações criminosas já estava estabelecida no Rio e em São Paulo desde 2023.