Ao menos oito países emitiram alerta de tsunami após um terremoto de magnitude 8,8 ser registrado na Península de Kamchatka, na Rússia, na manhã de quarta-feira (30) pelo horário local – noite de terça-feira (29) no Brasil. O terremoto é o mais forte desde 2011, quando áreas do Japão foram devastadas por ondas gigantes. Por isso, autoridades determinaram evacuações, suspensão de atividades no mar, além de recomendações para não aproximação das áreas costeiras.
Entre os países em alerta estão o Peru e o Chile, ambos localizados na América Latina. Apesar de o Brasil pertencer à região, não há risco de que os impactos do terremoto sejam sentidos por aqui. “Se o terremoto seguido de tsunami acontece no oceano Pacífico, não tem chance de chegar no oceano Atlântico. Temos apenas uma placa tectônica entre o Brasil e a África, pouco ativa, com pouquíssimas erupções e muito profunda”, explica o oceanógrafo Guy Marcovaldi.
A situação é bem diferente do local onde o terremoto foi registrado na noite de terça-feira (29). O Círculo de Fogo do Pacífico concentra 90% dos terremotos do mundo, justamente pela região estar sobre diversas placas tectônicas com atividade sísmica intensa. “A posição do oceano e dos países em relação à placa tectônica é o que faz com que ocorra mais ou menos terremotos e, em consequência, a possibilidade de tsunamis”, detalha Carlos Teixeira, professor do Laboratório de Oceanografia Física da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC).
Terremoto na Rússia
Onda passou por um prédio localizado perto da costa, após um forte terremoto atingir a Península de Kamchatka, em Severo-Kurilsk, região de Sakhalin, Rússia por Divulgação
Carlos Teixeira explica que a movimentação do solo oceânico gera uma agitação na água, propagada em formato de onda – o tsunami. “Em alto-mar ela não é uma onda grande, o que acontece é que quando ela chega na praia, adquire um tamanho muito maior”, afirma. O principal sinal de alerta é o recuo incomum da água do mar. Apesar de ser remota a possibilidade de tsunamis atingirem a costa brasileira, devido a posição do país sobre as placas tectônicas, o professor recorda que existem relatos de ondas gigantes adentrando o litoral brasileiro. Um deles envolve, inclusive, a Baía de Todos-os-Santos.
“Até houve relatos de tsunami no passado no Brasil, mas que foram gerados por terremotos que aconteceram na Europa. Outro exemplo é quando acontece um deslizamento de terra no meio do oceano. Mas há muitos anos não ouvimos relatos sobre isso”, completa Carlos Teixeira. Registros históricos apontam que em 1º de novembro de 1755 terremotos de magnitude 8.5 e 9.0 devastaram Lisboa, metrópole portuguesa, e causaram tsunami na costa soteropolitana.
Terremoto de magnitude 8,7 é registrado no leste da Rússia; há risco de tsunami
Na época, Dom José Botelho de Mattos, então arcebispo de Salvador, registrou que ondas gigantes adentraram a Baía de Todos-os-Santos por volta das 15 horas. O registro consta em uma carta escrita por ele em maio de 1756. O arcebispo comentou sobre os efeitos na América do “horroroso terremoto” que atingiu Lisboa, como mostrou reportagem do CORREIO. Dom José Botelho relatou que a cruz que fica em frente à Igreja da Boa Viagem, na Cidade Baixa, ficou parcialmente coberta pela água. A cruz está a 50 metros do mar e, ao menos, a dois metros acima do nível das águas.
A força das ondas provocadas por terremotos no mar é tanta que os estragos podem ser sentidos a milhares de quilômetros em uma velocidade considerada muito rápida por especialistas. São, em média, 600 quilômetros percorridos por hora. “As ondas são feitas geralmente pelo vento, enquanto as ondas gigantes [de tsunamis] são feitas por terremotos. A depender da força da erupção nas placas tectônicas e da velocidade, as ondas chegam em lugares distantes provocando grandes inundações em outros continentes”, afirma o oceanógrafo Guy Marcovaldi.