Mesmo sendo uma ação necessária e respaldada por lei, a Operação Gatonet, promovida pela Neoenergia Coelba para remover cabos de telefonia e internet irregulares dos postes, pode colocar em risco a vida de seus próprios funcionários — especialmente em áreas onde o tráfico de drogas exerce domínio e explora serviços clandestinos como os chamados “gatonets”.
A operação, que teve início no bairro da Pituba, em Salvador em Março, foca na retirada de fiações ilegais de internet e telefonia, e já removeu mais de 450 toneladas de cabos em 2024 na Bahia. Contudo, o que muitos não veem é o perigo silencioso por trás dessas ações, principalmente em regiões onde facções criminosas utilizam o fornecimento ilegal de internet como parte de suas atividades.
Um exemplo claro disso é o provedor CVNET, sigla que faz alusão direta à facção Comando Vermelho. Em diversas comunidades da capital baiana, a CVNET atua como a “operadora oficial” dos criminosos, oferecendo internet a preços baixos — muitas vezes imposta à força — e mantendo o controle sobre a comunicação local. A retirada desses cabos, mesmo que legalmente autorizada, é vista como uma afronta ao domínio da facção e pode gerar retaliações.
“Nosso objetivo é garantir a segurança da população”, afirma Rodrigo Almeida, gerente de Relacionamento da Neoenergia Coelba. Porém, para os trabalhadores que executam o serviço na ponta, a sensação é de que a segurança deles nem sempre é garantida. Em bairros onde a presença do tráfico é forte, a retirada de cabos clandestinos não é apenas um ato técnico, mas sim uma ação que pode ser interpretada como uma ofensiva contra os interesses da facção.
Funcionários ouvidos sob anonimato relatam que evitam atuar em determinados locais sem escolta da polícia militar. “A gente sabe onde pode mexer e onde não pode. Tem lugar que se cortar os fios, a ordem vem pra não voltar mais vivo”, disse um colaborador.
A Neoenergia Coelba afirma que o compartilhamento dos postes deve seguir as Resoluções da Aneel e Anatel, e que somente empresas regularizadas podem utilizá-los. No entanto, na prática, quem decide em muitas regiões não são as agências reguladoras, e sim grupos armados.