O Teatro Vila Velha, um dos equipamentos culturais mais importantes de Salvador, registrou cinco roubos em menos de um mês, sendo quatro deles na última semana. Situado no Passeio Público, área verde do bairro do Campo Grande, o espaço sofre com as consequências da insegurança presente no Centro da cidade, assim como sua população.

O designer Marcus Chagas, por exemplo, se mudou para o Campo Grande há um ano e já sentiu na pele os impactos da criminalidade que assombra o Centro da cidade. “Eu ia fazer exercícios quando fui abordado nas escadarias em frente ao Edifício Campo Grande. Eram duas pessoas armadas, mas como eu luto Krav Maga e Muay Thai, eu tive que imobilizá-los. Foi tenso, mesmo sabendo lutar”, conta.

O episódio fez com que Marcus partilhasse de um sentimento que, de acordo com ele, já era a norma entre seus vizinhos: a preocupação constante. “O mais inquietante é a sensação de vitimização pela violência, esse sentimento de ser um cidadão desprotegido, frágil, suscetível a uma ameaça constante. Como resultado, temos uma comunidade de moradores assustada e reativa, o que piora as relações sociais entre as classes do entorno”, afirma.

Quando a preocupação não é a regra, a indiferença passa a ser o único artifício de sobrevivência. É assim que a proprietária do Bar da Loira, na Baixa dos Sapateiros, relata que consegue manter seu negócio na área da cidade que atualmente conta escasso movimento. “Eu não me sinto insegura porque já me acostumei. Nunca vi nada dos certos nem dos que andam errado, por isso estou aqui há tanto tempo”, diz.

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Comerciante no Dois de Julho há 39 anos, Marli Brito, 65 anos, conta que também nunca foi diretamente afetada pela insegurança, embora já tenha testemunhado e ouvido sobre diversos roubos. “De modo geral, o Centro de Salvador está muito inseguro. Está muito difícil sobreviver aqui com a falta de segurança. Tem pedintes o dia inteiro e meliantes ameaçando quem transita por aqui. Há duas semanas, eu atravessei a Carlos Gomes e, quando cheguei no ponto, estava vindo um peruano com o celular. Dois rapazes tomaram o aparelho da mão dele e saíram correndo, por volta de 13h”, relata.

“Há mais ou menos uma semana, minha comadre veio me visitar e, enquanto passava pelo Relógio São Pedro, dois rapazes pegaram o braço dela para tomarem a pulseira e corrente que ela usava. Antes, há dez anos, eu me lembro que eu saía do meu restaurante meia-noite ou ainda mais tarde e ia para a Carlos Gomes pegar um táxi. Hoje, eu não faço mais isso. Eu fico esperando um carro de aplicativo porque está tudo muito difícil. Tenho clientes nos Barris, Nazaré, Saúde e Graça que falam isso também”, completa Marli Brito, que é proprietária do restaurante São Vicente.

Ela ainda conta que uma amiga, que mora no Canela e prefere não ser identificada, só sai de casa de segunda a sexta-feira, nos horários comerciais, já que as ruas do bairro costumam ficar vazias após às 18h e no final de semana. Mesmo dentro de casa, a mulher sente medo. “Outro dia entraram no prédio e levaram o micro-ondas do zelador do prédio dela. É um absurdo”, critica.

Em nota, a Polícia Militar disse que a unidade tem intensificado o policiamento em toda a região do Centro de Salvador para combater ações criminosas com o apoio da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT), Rondesp BTS e de unidades especializadas e convencionais, como o Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur).

Ainda, disse que o comando da unidade tem promovido reuniões com as associações de moradores da região com o intuito de ouvir as demandas de cada localidade e direcionar o efetivo de forma inteligente. Por fim, a corporação ressaltou a importância do acionamento e registro da ocorrência junto à delegacia que atende ao bairro.

Jornal Correio da Bahia