Na Favela do Moinho, localizada na região central da capital paulista, dezenas de famílias têm enfrentado ameaças e extorsões ao tentar aderir a programas de habitação popular do governo estadual. Segundo relatos, criminosos que controlam parte dos imóveis da área, incluindo “Leo do Moinho”, apontado como uma das lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) e preso em 2024, estão exigindo quantias de até R$ 100 mil dos moradores que desejam se mudar para apartamentos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

As intimidações partem de indivíduos que se autodenominam proprietários das casas e que alugam os imóveis por valores que chegam a R$ 700 mensais. Eles alegam que a migração para a habitação social promovida pelo estado resultaria na descaracterização da comunidade e, com isso, pressionam os moradores a pagarem uma “multa” ou a se comprometerem a dividir lucros de eventuais vendas futuras dos apartamentos com os criminosos.

A situação já motivou a abertura de inquérito pela Polícia Civil e está sob investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo. O órgão já apresentou ao menos seis denúncias relacionadas a tráfico de drogas e associação criminosa, atingindo integrantes do PCC que atuam na localidade.

Diante das ameaças e do clima de constante vigilância, muitos moradores têm recusado até mesmo o apoio logístico gratuito oferecido pelo governo para fazer a mudança de seus pertences. Há casos de famílias que optaram por abandonar suas residências às pressas, em silêncio, bancando o transporte por conta própria.

De um total de 405 famílias que deixaram o local, 222 recusaram o auxílio da CDHU no processo de transição para as novas moradias. A resistência reflete não apenas o medo, mas também a tentativa de evitar retaliações por parte dos criminosos que dominam o território.