Os cerca de 25 mil motoristas de aplicativos de transporte que atuam na capital baiana farão uma paralisação de 24 horas, contadas a partir das 0h desta quarta-feira (8). De acordo com o presidente do Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter), Átila Santana, acontece globalmente um protesto contra a Uber e aqui eles vão aproveitar a paralisação para reivindicar melhorias nas condições de trabalho de todos os apps.

Hoje os motoristas fazem viagem de R$ 4, porque a empresa fica com uma fatia gorda, mesmo sem entrar com nenhum insumo. O motorista que entra com tudo. Antes o motorista repassava 25% do valor da viagem, mais R$ 0,80 por corrida. Agora, a Uber cobra quanto ela quer e paga por quilometragem: R$ 0,75 por quilômetro em área de periferia e R$, 093 na área central“, denuncia Santana.

Ainda segundo ele, esse modelo de cobrança pela Uber faz com que uma viagem de Periperi a Calçada renda ao motoristas apenas R$ 4, enquanto que da Liberdade ao Bonfim sai por R$ 5.

Embora o movimento global seja dos condutores do Uber, em meio à abertura do capital da empresa na Bolsa de Valores, que deve ocorrer na sexta-feira (10), Átila informou que os motoristas de todos os aplicatos que operam em Salvador vão aderir ao ato, que eles classificam como “dia do off”.

“É um movimento forte, é internacional. É uma maneira de a categoria retaliar empresa. Não tenho como estimar qual será a adesão em Salvador, mas pelo movimento que tenho visto nos grupos da categoria, estimo que será de 100%”, informa.
Para marcar o “dia do off”, um grupo de motorista se reúne por volta das 8h nas imediações do antigo Aeroclube e, de lá, seguem em manifestação até a sede da Uber na cidade, na Magalhães Neto.

“Vamos manifestar a nossa insatisfação. Também pretendemos levar um documento ao Ministério Público Estadual para que seja proposto um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre as partes. As pessoas só se sujeitam a essas arbitrarieades por não terem outra opção”.

Procurada pelo CORREIO, a Uber informou que por enquanto não vai se posicionar.

Abertura do capital
AUber faz sua oferta pública inicial (IPO) na bolsa de Nova York na sexta – é a abertura de capital do aplicativo que tem motivado mais queixas entre os trabalhadores. A expectativa é de que as ações sejam avaliadas entre US$ 44 e US$ 50 dólares, levando o valor da empresa para próximo de US$ 90 bilhões.

“A Uber cresceu, se tornou uma empresa bilionária, está entrando na bolsa, mas o motorista, que é a máquina que move esse sistema, está esquecido”, diz Eduardo Lima, presidente da Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp).

A Amasp reivindica aumento da tarifa para R$ 10. “Eles alegam que se aumentar a tarifa, cai a demanda. Mas faz três anos que não temos aumento. O passageiro já deixa até gorjeta”, diz Lima. Outra reivindicação é para aumentar a transparência nos casos de exclusão de motoristas dos aplicativos.

Associações de outros Estados do Brasil além da Bahia e São Paulo, como Rio, Pernambuco, Minas Gerais, Tocantins, Espírito Santo e Ceará, também terão paralisações.

No Rio, o presidente de uma das entidades, a Associação de Motoristas Particulares Autônomos do Rio de Janeiro (Ampa-RJ), diz que a convocação também é para que os motoristas desliguem os aplicativos por 24 horas. “Não estamos sugerindo carreata”, avisa Denis Moura. Segundo ele, será respeitado o direito de motoristas que optarem por trabalhar.

“Colocamos não como uma imposição. Acreditamos que 50% vá aderir”, diz ele, que também pede aumento da tarifa. “Com a quantidade gigantesca de desempregados, a Uber tem mão-de-obra muito farta”. No Estado do Rio, diz, são cerca de 100 mil carros de aplicativos. “Mais do que transportar, economizamos o tempo das pessoas, mas não temos respeito das empresas de aplicativo ”

Pelo mundo
Nos Estados Unidos, algumas organizações pediram greve de 24 horas, mas a Aliança de Trabalhadores de Táxis de Nova York pediu aos motoristas que parassem apenas entre as 7h e as 9 horas. Foram convocados motoristas de aplicativos como Uber, Lyft, Via e outras plataformas.

Não está claro quantos condutores participarão da greve – também houve convocatórias em cidades como Los Angeles, Filadélfia, Boston e Washington. Um protesto similar é esperado também em Londres, no Reino Unido.