O que era para ser um facilitador da mobilidade no bairro de Pernambués, em Salvador, a ciclofaixa tem se tornado um espaço perigoso para os moradores. E o perigo se transformou em acidente na noite desta terça-feira (23), quando uma mulher foi atropelada na faixa destinada aos ciclistas, na Rua Thomaz Gonzaga.

O atropelamento aconteceu durante o desembarque de um ônibus em um ponto, por volta das 22h40. Ao descer do coletivo, a passageira foi atingida por uma motocicleta, que circulava indevidamente pela faixa da direita, próxima à calçada. Por quase todo bairro, as paradas de ônibus são em cima da ciclofaixa, que tem cerca de 1.600 metros ao longo da via.

O acidente não chegou a ser registrado junto à Transalvador. Segundo testemunhas, em contato com o Site, a vítima foi socorrida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o motociclista teve os dados “recolhidos” pelos rodoviários para que fossem cobrados os prejuízos posteriormente.

Porém, o ocorrido “ilustra” uma série de reclamações, de moradores, rodoviários e até mesmo ciclistas, com a ciclofaixa. Em contato com o Site, o presidente Associação dos Funcionários do Grupo Gevan (Asfungg Plataforma), José Francisco, afirmou que a faixa causa insatisfação desde sua instalação, em 2014.

“É muito perigosa essa ciclofaixa porque os ônibus são obrigados a parar no meio da rua para desembarcar os passageiros, que descem dos coletivos em cima da faixa de ciclistas. O risco de acidentes já é muito grande e ainda tem motociclistas imprudentes que a utilizam indevidamente, como foi esse caso que acabou com o atropelamento de uma passageira”, explica.

Segundo o representante do grupo de rodoviários, além do risco de acidentes, a ciclofaixa causa também transtorno ao trânsito do bairro. “Se trata de uma faixa contínua, de ponta a ponta, em uma rua movimentada, de mão dupla. Com isso, além de parar no meio da rua, os ônibus têm que parar no ponto em fila, pois não tem nenhum recuo, e os veículos pequenos não podem ultrapassar por causa do fluxo contrário e falta de espaço, já que a rua ficou ainda mais estreita. Antes da ciclofaixa não existia isso. O congestionamento é constante, todos os dias em praticamente todos os horários”.

Mas, se por um lado a circulação de ciclistas na faixa oferece riscos aos pedestres, por outro lado, os usuários são prejudicados pelo uso indevido do espaço. Em diversos pontos ao longo da sua extensão, a faixa é utilizada para estacionamento de veículos, o que obriga o ciclista a dividir espaço com na pista de trânsito com ônibus, caminhões, motos e carros.

A reportagem procurou a Transalvador em busca de posicionamento diante das críticas e dos problemas causados pela faixa. Em nota, o órgão descartou a possibilidade de mudanças em relação à ciclofaixa e de qualquer retirada da mesma, e aproveitou para garantir a permissão de parada de ônibus sobre a faixa para caso de embarque e desembarque.

A Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) esclarece que, em trechos como este, os espaços nas ciclofaixas devem ser compartilhados entre ciclistas e os veículos de transporte coletivo. Isso é comum em ciclofaixas que passam por pontos de ônibus sem o recuo.  Nesses casos, ao ônibus é permitido a parada sobre a ciclofaixa durante o tempo de embarque e desembarque de passageiros. Por isso que esses locais devem receber uma sinalização específica.  

Cabe também ao motorista dos ônibus ficar atento à passagem de ciclistas e passageiros pelo local, já que no trânsito o veículo de maior porte deve redobrar a atenção em relação aos de menor tamanho.

A Transalvador acredita que o sistema cicloviário deve ser expandido na cidade já que o investimento na diversificação dos meios de transporte, principalmente os alternativos e de massa, é uma tendência mundial. O órgão de trânsito mantém fiscalizações rotineiras em diversos pontos para ordenar o tráfego nesses espaços.