Crianças que vivem em casas “super limpas” e que não convivem com outros pequenos estão mais propensas a desenvolver leucemia infantil. É o que sugere uma pesquisa de mais de 30 anos sobre este tipo de câncer, recentemente publicada a revista Nature Reviews Cancer.

Cientistas britânicos concluíram que uma cadeira mortal de eventos pode ser desencadeada quando as crianças não são submetidas a microrganismos suficientes para preparar o sistema imunológico para combater doenças mais graves.

Limpeza excessiva prejudica imunidade das crianças

O estudo do Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres, afirma que sem imunidade suficiente, as crianças e adolescentes ficam mais vulneráveis até mesmo a um vírus relativamente inofensivo, como o da gripe por exemplo.

A pesquisa revelou que a leucemia infantil é causada por um processo de duas etapas: mutação genética e exposição a infecções – o que significa que pode ser evitada com atitudes para “estimular” o sistema imunológico na infância.

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CHUBYKIN ARKADY/SHUTTERSTOCK

O primeiro passo envolve fatores genéticos, que ocorre antes do nascimento e predispõe uma criança à leucemia. Os autores do estudo ressaltam que apenas 1% das crianças com essa alteração desenvolve a doença.

O segundo motivo está relacionado a exposição a uma ou mais infecções comuns. Isso significa que as crianças que tiveram uma infância “limpa” no primeiro ano de vida, sem interação com outros bebês, brincadeiras em ambientes externos ou que viveram em casas extremamente limpas não foram preparadas para ameaças no sistema imunológico. Ou seja, estão mais vulneráveis a doenças mais graves, como a leucemia linfoblástica aguda (LLA).

Segundo o professor Mel Greaves, autor do estudo, existem fortes evidências que provam que a infecção precoce na infância é benéfica para estimular o sistema imunológico. Ele sugere que a leucemia infantil, assim como diabetes tipo 1, alergias e outras doenças autoimunes, podem ser evitadas se o sistema de defesa da criança for adequadamente “preparado” desde o primeiro dia de vida.

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ELVIRA KONEVA/SHUTTERSTOCK

Para o especialista, os pais não devem “blindar” os filhos e, sim, deixá-los fazer suas próprias descobertas, em espaços ao ar livre e incentivando contato social com outras crianças. É importante ressaltar que mais desdobramentos da pesquisa já estão sendo realizados e que, mesmo com essas conclusões, os responsáveis devem ficar atentos a cuidados de higiene e segurança dos pequenos, mas sem exagero.

O que é a leucemia linfoblástica aguda (LLA)

A leucemia linfoblástica aguda é uma forma de câncer sanguíneo mais frequentemente diagnosticada em crianças de zero a quatro anos de idade. A doença se desenvolve rapidamente, durante dias ou semanas, se espalhando por outras partes do corpo como gânglios linfáticos, o fígado e o sistema nervoso.

A principal forma de tratamento é a quimioterapia. Estima-se que no Brasil, a leucemia corresponde a 30% dos 13 mil novos casos de câncer infantil em crianças e adolescentes contabilizados em 2017. A boa notícia é que a maioria dos pequenos que descobrem a doença no estágio inicial faz o tratamento adequado e se curam.