Oficial de Justiça deixa de intimar vítima de tentativa de homicídio por alto risco de violência em Salvador

Uma decisão administrativa recente da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) trouxe à luz a grave realidade da violência urbana em Salvador, que chega a paralisar o andamento de processos importantes, como um caso de Tribunal do Júri.

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O processo administrativo, proposto pelo 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri contra um Oficial de Justiça, revela que a Justiça baiana precisou solicitar reforço policial especializado para garantir que uma vítima sobrevivente fosse intimada em uma área de alto risco na capital.

Conforme o documento, o Oficial de Justiça foi alvo do procedimento após deixar de realizar, por duas vezes, a intimação da vítima de um processo criminal de competência do Júri. O servidor certificou em ambas as ocasiões que a área de diligência apresentava “alto risco de violência”.

A situação escalou a ponto de o Juízo do Júri ter que encaminhar um ofício direto ao Coordenador do Núcleo de Operações Especiais da Central de Mandados, solicitando providências:

[…]solicito a Vossa Senhoria providências no sentido de que seja providenciado reforço policial com a finalidade de cumprimento na diligência de intimação da vítima, […] bem como que seja realizada por outro oficial de justiça diverso da última diligência[…]”
A necessidade de acionar o Grupo de Operações Especiais (GOE) ou um núcleo similar para garantir o cumprimento de um ato processual básico é um reflexo direto de como a violência e o domínio territorial por facções ou grupos criminosos têm afetado a capacidade do Estado de exercer sua autoridade, inclusive a Judicial.

Após as apurações, o Oficial de Justiça informou que houve um equívoco de sua parte ao não solicitar a redistribuição do mandado diretamente para o grupo especializado (GOE).

A Corregedoria Geral da Justiça do TJBA determinou o arquivamento do feito, não vislumbrando falta disciplinar que merecesse punição. No entanto, a decisão serviu como um alerta sobre o tema da violência e a segurança funcional. O texto de arquivamento fez uma recomendação expressa ao Oficial de Justiça, destacando o dever de zelar pela função, mas reconhecendo o risco:

Ressalta-se que o cumprimento diligente e preciso das ordens judiciais constitui dever essencial […], sendo imprescindível que o Servidor, diante de qualquer obstáculo ou situação de risco, adote as medidas formais cabíveis, comunicando tempestivamente à chefia imediata e requerendo providências adequadas, de modo a resguardar não apenas sua integridade física, mas também a regularidade dos atos processuais sob sua responsabilidade.”

Violência na Justiça

O caso, que se encerra internamente como uma questão funcional, ganha contornos de notícia de segurança pública ao expor que a violência urbana em Salvador não é apenas uma ameaça à população, mas também um obstáculo à efetividade da prestação jurisdicional.