Tornado em Salvador? O MASSA! foi atrás da resposta para esclarecer o assunto. Após o registro de um tornado em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e os ventos fortes que atingiram Salvador, no fim de outubro, inclusive interrompendo a travessia do ferry-boat, aumentou a preocupação sobre os riscos de eventos climáticos extremos também na capital baiana.
Embora os últimos dias estejam mais estáveis, a combinação de chuvas intensas e ventanias atípicas, nas últimas semanas, reacendeu o debate sobre a influência das mudanças climáticas e o perigo real de Salvador ser palco de ocorrências severas, como tornados ou trombas-d’água.
De acordo com a meteorologista Maryfrance Diniz, da Coordenação de Estudos do Clima e Projetos Especiais (Cocep) do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), as chuvas recentes que atingiram Salvador e outras cidades da Bahia foram resultado da atuação de frentes frias associadas a temperaturas e umidade elevadas, o que favoreceu volumes expressivos de precipitação.
“As chuvas recentes foram resultantes da atuação de frentes frias, que associadas às temperaturas e umidade elevadas promoveram volumes significativos em algumas localidades do estado. Esses sistemas frontais penetram no país, inclusive no Nordeste, durante todo o ano, porém, desempenham importante papel no máximo das chuvas durante o período de novembro a janeiro, sobre o setor sul-sudeste do Nordeste brasileiro”, explicou.
Embora um tornado clássico seja considerado raro em Salvador, a cidade já registrou episódios de trombas-d’água, fenômenos semelhantes, mas que ocorrem sobre o mar. A tromba-d’água é, na prática, um tornado formado sobre a água e costuma se dissipar antes de atingir o continente.
“Os tornados, mesmo considerados eventos raros em outras Regiões em comparação com a Região Sul do país, que possui a maior incidência de tornados devido a condições atmosféricas específicas que favorecem a formação desses fenômenos, os mesmos também podem ocorrer em outras regiões sob condições meteorológicas adequadas”, destacou Maryfrance.
A meteorologista explica que para a formação de um tornado são necessárias condições atmosféricas e topográficas específicas, como grandes variações de temperatura, alta umidade e correntes de vento intensas em diferentes direções e altitudes. Essas características são mais comuns em áreas planas e abertas, como as do Sul e Centro-Oeste do país, e menos prováveis em cidades com relevo acidentado, como Salvador.
“A combinação de áreas elevadas, costeiras e urbanizadas são mais propensas à formação de chuvas intensas, mas menos favoráveis a tornados, pois a formação dos mesmos necessita de condições topográficas e atmosféricas específicas, como áreas mais planas e diferenças de temperaturas”, detalhou.
Mesmo assim, a especialista alerta que o avanço das mudanças climáticas tem alterado o comportamento atmosférico e aumentado a frequência de eventos extremos, como tempestades e ventos fortes, inclusive na Bahia. “As mudanças climáticas influenciam no aumento das chuvas e dos ventos fortes principalmente através do aquecimento global (temperaturas dos oceanos e ar) que intensifica o ciclo hidrológico, fornecendo mais energia propícia para o desenvolvimento de tempestades e ventos fortes”, afirmou.
Nos últimos meses, Salvador tem vivenciado um cenário que reflete essa nova realidade. O mês de outubro foi marcado por fortes precipitações e rajadas de vento que chegaram a causar alagamentos, queda de árvores e instabilidade no sistema de transporte marítimo.
Segundo Maryfrance, esse tipo de instabilidade deve se tornar cada vez mais comum se não houver ações efetivas de mitigação e adaptação climática. “Diante desta temática de aquecimento global ou mudanças climáticas, a nível mundial nem no nosso país, não estamos preparados para lidar com a frequência e intensidade dos fenômenos climáticos extremos que já está ocorrendo. É preciso mais conscientização da seriedade desta crise climática, tanto da população bem como dos setores governamentais, ambientais, empresariais, industriais entre outros, na urgência de planejamentos e, principalmente, na aplicação de ações para mitigação e adaptação necessárias frente a esta nova realidade”, alertou.



