A Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) divulgou nesta terça-feira (16) que removeu 31.236 ligações irregulares de energia, os chamados ‘gatos’, nos três primeiros meses de 2023. O valor é equivalente a 92 milhões de quilowatts por hora, o que seria suficiente para abastecer Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, por 45 dias, ou Vitória da Conquista, a terceira, por três meses.
O número verificado no primeiro trimestre deste ano é 11% maior do que as ligações identificadas nesse mesmo período do ano passado: em 2022, foram 28.584. Em compensação, as fiscalizações diminuíram em 2023. Enquanto no último ano foram feitas 74 mil, este ano a Coelba realizou 63 mil.
Identificar mais irregularidades em menos inspeções foi possível devido às tecnologias que vêm sendo integradas às operações da empresa. De acordo com Rodrigo Almeida, gerente da Receita da Neoenergia Coelba, a eficiência se deve à adoção de equipamentos inteligentes que ajudam no chamado balanço energético, que consiste na medição do fluxo de energia elétrica que circula nos estabelecimentos e ajuda a localizar “alvos”, locais com consumo suspeito de energia elétrica.
“Com esses alvos, é possível indicar consumidores que têm alguma irregularidade e direcionar pessoas especializadas que vão visitar a localidade. São técnicos e eletricistas capacitados, que vão identificar se tem um desvio de energia, uma fraude no equipamento de medição, alguma coisa que faça com que o consumo de energia elétrica não seja devidamente registrado”, explica Almeida. Com o auxílio dessa tecnologia, são necessárias menos fiscalizações em campo para a detecção dos ‘gatos’.
Quando são confirmadas fraudes, a consequência imediata para os responsáveis é a cobrança retroativa por todo o período irregular. Isso quer dizer que é feito o cálculo do valor equivalente ao que foi consumido de forma irregular em energia, para que os consumidores que furtaram paguem pelo tempo correspondente ao uso. Esse método de recuperação de energia faz com que não haja um prejuízo tão expressivo para a empresa nesse sentido.
“Os prejuízos que os gatos trazem são para toda a comunidade. O primeiro prejuízo, e o mais importante, é o risco de segurança. Quem faz a irregularidade está sujeito a sofrer um acidente, visto que não segue procedimentos normativos técnicos, não são pessoas capacitadas, e também a comunidade ao redor, que pode vir a sofrer acidentes ou defeitos na rede oriundos de uma sobrecarga causada pelos ligados”, afirma Almeida.
Ele reforça a existência do prejuízo financeiro para os consumidores, que podem vir em forma de impostos mais altos. De acordo com ele, a energia que a Coelba não consegue cobrar a quem furta não deixa de ter arrecadação de impostos associada. Assim, quando há recuperação de energia, também há a recuperação dos impostos, que pode acarretar aumentos no custo da tarifa de energia elétrica.
Segundo Edval Landulfo, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA) , os consumidores acabam pagando grande parte do prejuízo dos ‘gatos’ na Bahia. “A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), órgão regulador no Brasil, estabelece que na tarifa do consumidor terá um percentual para perda. Portanto, uma parte desse valor ‘perdido com as fraudes’ será paga por cada residência ou conta individual”.
Níveis do prejuízo
Recentemente, no Rio de Janeiro, a empresa Light, também especializada em energia elétrica, entrou com um pedido de recuperação judicial. A solicitação teve como um dos argumentos o alto número de roubos de energia, que afetou as condições econômicas da empresa. Na Bahia, apesar do índice mais alto de furtos, o gerente da Coelba garante que essa realidade não está próxima.
“Os nossos indicadores estão dentro dos critérios medianos nas distribuidoras brasileiras. Nós temos um combate intenso aos furtos de energia elétrica, para que não deixe que isso se descontrole, e isso também é uma conscientização que a população precisa ter”.
O economista Edval Landulfo conta que existe um longo processo antes de uma empresa declarar falência ou pedir recuperação judicial. “Quando isso acontece, vemos casos como das Lojas Americanas ou da Light. É difícil afirmar que o grupo Neoenergia, subsidiário do grupo espanhol IBERDROLA, poderia ou não passar por um processo semelhante. O grupo Neoenergia tem acionistas de peso, como IBERDROLA, com participação acionária de 53,5%, PREVI, com 30,3% das ações, e demais investidores compondo um Free Float de 16,2%”, analisa.
Jornal Correio da Bahia