Comando Vermelho abastece o CP de armas para fazer frente ao BDM, aliado do PCC na Bahia
Apreensões de fuzis mais do que dobraram em 2020 com relação a 2019; PRF diz que armas que entram na Bahia vêm de organizações criminosas grandes, como o CV e o PCC
Bruno Wendelbruno.cardoso@redebahia.com.br
19.04.2021, 05:00:00
Carro e moto incendiados após ataque em São Caetano, em fevereiro
Carro e moto incendiados após ataque em São Caetano, em fevereiro ((Foto: Bruno Wendel / CORREIO))
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Fuzis, pistolas com mira laser e até granadas. Armas potentes, aliadas a um treinamento específico para manuseá-las, fizeram crescer na Bahia o poder da facção criminosa Comando da Paz (CP). Os equipamentos que vêm tornando ainda mais violentas as disputas com o arquirrival Bonde do Maluco (BDM) chegam de fora. Faz pouco tempo que o CP firmou uma aliança com outra facção, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Desde então, é a segunda maior organização criminosa do Brasil que abastece os baianos do CP.

A chegada das armas de fora já reflete nas apreensões no Estado. Embora não atribua os números diretamente ao fornecimento do Comando Vermelho, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) registrou um aumento de 113% nas apreensões de fuzis no estado no ano passado com relação a 2019. Foram 49 armas do tipo retiradas das ruas em 2020, enquanto, em 2019, ações policiais localizaram 23 fuzis.

Parte das armas que chegam à Bahia cruzam as rodovias do estado, através do tráfico internacional. Para o chefe do Comando de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Bahia, o inspetor Jader Ribeiro, não resta dúvida de que são grupos rivais como o CV e o PCC – aliado, na Bahia, do Bonde do Maluco – que fazem com que o arsenal chegue aqui.

“São armas muito caras. Pistola que custa R$ 10 mil e fuzil R$ 40 mil, mas em grande quantidade, tipo 30 pistolas, 20 fuzis. Uma pequena quadrilha não tem como arcar com esse custo todo, e sim uma rede que sustenta esse mercado. Sem sombra de dúvidas que as armas que chegam à Bahia vêm do tráfico internacional, através das grandes organizações criminosas do país, o CV e PCC, para alimentar a guerras entre as facções baianas”
, aponta.

A SSP disse não ser atribuição da polícia baiana investigar o tráfico internacional, mas disse que atua com repressão e inteligência contra organizações criminosas e fornece apoio às forças federais, quando solicitada. A Polícia Federal disse que não se manifestaria.

O PCC já é apontado como aliado do BDM na Bahia. Mas, não faz muito tempo que o Comando Vermelho chegou ao estado. Em setembro do ano passado, CORREIO abordou com exclusividade a chegada da organização carioca aqui. Siglas do CV foram pichadas no território do CP, em alguns casos, postas ao lado das iniciais da facção baiana, evidenciando a relação entre as duas organizações criminosas.

O CV determinou luto na Bahia pela morte de um dos seus fundadores, o traficante Elias Maluco, em setembro do ano passado. Em outubro, o governador Rui Costa disse que não vai permitir que nehuma facção controle Salvador.