No dia Nacional da Consciência Negra, um ato de racismo ocorreu na estação Pernambués, na manhã desta sexta-feira (20), às 7h50. Um homem negro, de 38 anos, foi expulso por seguranças na estação de metrô após ser confundido com dois homens que estariam, supostamente, fazendo um “banheirão”, prática de atos sexuais em banheiros públicos.

O homem, que prefere não se identificar por medo e vergonha, relata que, após voltar do trabalho, pegou o metrô – ato que, segundo ele, raramente faz, pois sempre volta pra casa de ônibus – , e decidiu ir ao banheiro depois de desembarcar do vagão, em Pernambués. A vítima foi abordada por um segurança de forma agressiva e grosseira, pedindo que ele se retirasse do local. “Entrei no banheiro, já tinha um rapaz e, logo após, chegou outro rapaz. Três lugares [do mictório] ficaram ocupados. Quando eu estava fechando a calça, chegou o segurança gritando muito, todos que estavam ali se assustaram”, relatou.

O homem diz ainda que o segurança, a todo momento, pedia para que ele o acompanhassem para a fora do banheiro. “Ele falava ‘vamos, vamos, vamos, me acompanhem, por favor’. Os dois rapazes que estavam ao meu lado saíram rapidamente e eu perguntei o porquê que ele [o segurança] estava me tratando daquele jeito. Ele falava e eu perguntava o que ele tinha visto. Na verdade, ele não viu nada, até porque não aconteceu nada naquele banheiro”, explicou. A suspeita seria que os dois rapazes que estavam no local estariam fazendo um “banheirão”.

A reportagem do BNews acompanhou o momento em que o segurança constantemente fazia gestos para o homem saísse da estação. Ao chegar próximo da catraca, o funcionário ainda fez outros gestos de que estava expulsando o homem. Outros dois profissionais ainda tocaram no rapaz para ele sair da estação o mais rápido possível. “Ele [segurança] falou ‘agora pode ir, se quiser que vá de ônibus’ e mandou eu sair da estação. Me senti um lixo naquela hora. Ele me expôs daquele jeito. Eu não consigo contar para ninguém o que aconteceu”, comentou.

Ainda em estado de choque, a vítima, que é evangélico, casado e tem um filho, diz que já passou por outros momentos de racismo, mas desta forma foi a primeira vez. “Eu já fui seguido com a minha esposa dentro de uma livraria. Estávamos na seção de Bíblias, porque somos evangélicos, e o segurança a todo momento nos seguindo. Eu perguntei o porquê dele está atrás de mim e da minha esposa, o segurança disse que eram normas da empresa. Ele depois se afastou”, relatou.
A vítima ainda diz que no momento do ato, na estação de metrô, sentiu muita raiva, mas depois orou e pensou melhor. “Peço a Deus que ele melhore como pessoa, se torne um ser humano melhor e aprenda a respeitar as pessoas”.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da CCR Metrô Bahia, que afirmou repudiar atitudes racistas ou discriminatórias.

Leia a nota na íntegra:

“A CCR Metrô Bahia esclarece que, na manhã desta sexta-feira (20), agentes fizeram abordagem a dois homens no banheiro público da Estação Pernambués do Metrô, após serem flagrados cometendo atos obscenos no local, crime previsto no Código Penal Brasileiro. Por esse motivo, os envolvidos no ato foram orientados, e se retiraram do sistema sem qualquer tipo de agressão. A concessionária ratifica que promove ações para alertar os clientes sobre a importância da denúncia imediata de atos obscenos, assédio, vandalismo, brigas e furtos nos trens, plataformas, estações e terminais do sistema metroviário, estimulando-os a contribuir com a segurança de todos e bom funcionamento do modal. A empresa repudia atitudes racistas ou discriminatórias, de qualquer natureza, premissa que norteia o trabalho diário de todos os seus colaboradores”.