“Estou há 11 horas sem beber um copo de água. É o medo da covid”. O relato é de uma médica e não é do início da pandemia do coronavírus, no mês de março. Ele foi feito à equipe do Varela Notícias na última semana, em que os casos da doença explodiram na Bahia e mobilizaram governo e prefeituras pela reabertura de leitos exclusivos para pacientes com Covid-19.

As palavras da profissional são firmes. “Tenho medo de morrer”, explica. “Bebo água e como no almoço, e só”, repete. Uma tosse insistente atrás da equipe atrapalha a conversa da médica com a reportagem. O cenário é de morte eminente. O repórter pergunta quantas pessoas existem na fila de espera – o dia era quinta-feira da última semana. “Vai demorar, só para a triagem tem 11 pessoas”. “Quantas pessoas vocês já atenderam hoje?”, insiste o jornalista. “Até agora uma média de 50”, explica. Eram 16:00 e o local, um hospital particular de Salvador.

Um idoso enrolado em uma manta e com uma respiração ofegante senta ao lado do outro repórter do Varela Notícias que filmava a ação. O diagnóstico era claro: Covid-19.

De repente, agitação em uma das alas separadas para atender pacientes com sintomas de infecção respiratória: outra paciente, idosa e aparentemente dopada, é levada numa maca por três médicos para a UTI. Nitidamente com falta de ar, a mulher já utilizava uma máscara de oxigênio. Presenciando a cena, o distanciamento exigido pela profissão cai por terra: “como deve estar a cabeça daqueles que a amam?”. O hospital não permite a entrada de acompanhantes, o próximo contato seria feito apenas e com sorte, na alta hospitalar.

Em outro hospital privado da capital baiana, o cenário é exatamente o mesmo: salas cheias e desesperança.

A cena choca: um pai e uma criança de máscaras, na porta que separa os pacientes suspeitos da Covid-19, tentam, sem sucesso, observar para onde foi a esposa e mãe, que sintomática e com o plano em dia, deu entrada na ala do novo coronavírus.

A brecha aberta pelos seguranças, cada vez que uma nova pessoa é encaminhada para o setor, é pequena. Já a angústia, gigante. O medo tem a duração de 15 dias ou mais, um terço do período que durou a campanha eleitoral no estado.

A reportagem visitou ainda um terceiro hospital particular: idosos e crianças, sentados em um corredor fechado, sem saber se dali voltariam para a casa ou se a próxima comunicação com os familiares seria por um telefonema da equipe de infectologistas.

A dinâmica de testes é rápida: entra um paciente, fecha-se a porta, colhe-se sangue e fluidos nasais. O paciente sai e dali já não se sabe qual o seu destino. Uma borrifada de álcool na cadeira e o próximo nome da lista é chamado.

Uma enfermeira conversa com a equipe do Varela Notícias. O questionamento principal é sobre seus dias, se consegue ter esperança ali dentro. A enfermeira relata sobre o assustador aumento de casos e conta que tenta ficar tranquila, afinal, muita gente também é atendida e testa negativo.

A reportagem perdeu a conta de quantos pacientes passaram por aqueles bancos e quantas borrifadas no tubo de álcool em gel foram feitas em algumas horas. Uma tenda ao lado armada no estacionamento do hospital serve de abrigo para possíveis infectados com o coronavírus. Tosses e espirros eram os sintomas evidentes nas pessoas que estavam ao redor. É o som do medo.

No meio do caos, por trás de máscaras, óculos de proteção e luvas, a tranquilidade e confiança dos médicos, enfermeiros e técnicos, sobressaem. Um alento para quem precisa de algum conforto – seja paciente ou familiar.

SEGUNDA ONDA

Na última quinta-feira, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) admitiu que os baianos estão vivendo uma nova fase da Covid-19. Segundo o titular da pasta, Fábio Vilas-Boas, o número atual de casos ativos equivale aproximadamente ao do mês de junho de 2020, quando o estado viveu o primeiro pico.

Nos últimos oito dias a Bahia registrou 28.824 novos casos da Covid-19. O aumento significativo vem apenas 21 dias após o primeiro turno das eleições municipais no estado.

Com a atualização, o número de casos confirmados da Covid-19 no estado, desde o início da pandemia, chega a 423.124 e o de mortes a 8.418 mortes, representando uma letalidade de 1,99%.

Na Bahia, 33.056 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

Fonte:Varela Noticias