“Ele me disse ‘vou fazer uma oração e você vai tocar em todos os lugares que seu ex-namorado te tocou’, exigindo que eu colocasse os dois dedos dentro da minha calcinha, a outra mão na minha língua e perguntou se eu estava gostando”. Quem conta é uma jovem de 24 anos, que acusa o pastor evangélico Jeremias Barroso, da congregação Igreja Getsêmani, de abuso. Por meio de seu advogado, o pastor, que é uma das principais lideranças religiosas do Amapá, nega as acusações e se diz vítima de calúnias.

O relato da jovem faz parte de um inquérito instaurado na Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM), do Macapá. O caso, que conta com denúncias de mais 12 mulheres, foi investigado em sigilo ao longo do segundo semestre de 2020 e remetido ao Ministério Público do estado no início deste ano. Segundo apuração de Universa, o MP deve denunciar o pastor à Justiça nos próximos dias sob acusação de abuso mediante fraude com base no relato de duas vítimas. Outras denúncias ainda estão em investigação sob sigilo.

O religioso é fundador da congregação Igreja Getsêmani, em Macapá, e ficou conhecido por coordenar a “Marcha para Jesus”, evento evangélico que leva às ruas mais de 100 mil pessoas todos os anos no estado.

As investigações começaram em julho de 2020, depois que uma das vítimas contou para outras mulheres da igreja o que estava vivendo e descobriu que as amigas também sofreram situações semelhantes. Todas são atendidas pelo mesmo escritório de advocacia.

Pastor usava “purificação” como argumento para assédio, dizem relatos

A jovem de 24 anos diz que procurou a igreja do pastor em busca de um refúgio espiritual após viver momentos difíceis em 2019. Logo no primeiro dia, conta, notou algo diferente no contato com o pastor, que pediu conversas particulares com ela.

A vítima afirma que Jeremias usava da autoridade religiosa para cometer os abusos. Um domingo, sem energia em casa, ela não foi à igreja. “Por volta de 0h, ele sugeriu por mensagem que poderia me pegar em casa e me levar pra tomar um banho. Eu recusei. Ele falou ‘então vamos ao banheiro da igreja’ e eu também disse que não. O pastor insistiu: ‘Preciso orar em você, algo muito grave pode acontecer e precisa estar limpa’”, relata a vítima, que parou de frequentar o templo.

Universa ouviu quatro das vítimas – uma delas ainda não formalizou denúncia, mas é atendida pelos mesmos advogados. Todas contaram o drama vivido sob a condição de anonimato. Os relatos mostram um padrão de como o pastor agia: usava da reputação religiosa para cometer os assédios, geralmente praticados em seu gabinete.