Traficantes da comunidade Bateau Mouche, na Praça Seca, na Zona Oeste do Rio, atacaram uma base da Polícia Militar localizada na região, na madrugada deste sábado (24). Houve confronto, os agentes solicitaram reforço e um blindado foi deslocado para o local. A mais recente cena de violência soma-se a episódios de uma disputa sangrenta por exploração de negócios irregulares, como cobrança de taxas de segurança e venda de sinal clandestino de TV a cabo e de internet. O conflito envolve bandidos de dois grupos milicianos e de duas facções criminosas. As quadrilhas brigam pelo controle de uma arrecadação mensal, estima a polícia, de cerca de R$ 6 milhões.

A guerra entre traficantes e milícias já causa terror em dez comunidades, nove localizadas em Jacarepaguá, na Zona Oeste, e uma em Campinho, na Zona Norte do Rio. Os confrontos já duram sete meses e trazem um rastro de pelo menos 12 mortes. Entre as vítimas, um turista americano.

No meio da disputa ficam milhares de moradores de Jacarepaguá, uma das comunidades Santa Maria, Renascer, Tirol, Jordão, Gardênia Azul, Covanca, Bateau Mouche, Barão e Chacrinha, as três últimas localizadas na Praça Seca, além do Campinho (Morro do Fubá), obrigados a alterar a rotina em nome da sobrevivência. Quem mora nessas regiões diz que, durante à noite, o melhor é não sair de casa. Para os que estão na rua, o medo das balas perdidas é motivo para só regressar pela manhã.

Retrospecto de violência – No dia 9 de agosto, o turista americano Joseph Trey Thomas tornou-se vítima de bala perdida ao ser atingido dentro da casa de uma amiga em um dos acessos ao Morro do Fubá. Três dias depois, ele morreu num hospital da Zona Sul. No fim de setembro, a Igreja de São Jorge, em Quintino, suspendeu uma missa por conta do risco de tiroteios. A ordem para fechar os portões partiu de traficantes da região. O bairro é vizinho à Praça Seca e serve de ponto de partida de bandidos do Morro do Dezoito, que participam dos enfrentamentos no Morro do Fubá.

A mais recente vítima da guerra foi o soldado PM Caio Cezar Lamas Cordeiro, de 31 anos. Ele patrulhava o Morro do Tirol, na Taquara, no dia 11 de dezembro, quando foi baleado no braço e no pescoço. Levado com vida para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, não resistiu. De acordo com informações recebidas pela polícia, a comunidade do Tirol foi uma das áreas invadidas pela maior facção criminosa do Rio, mas antes estava sob influência da milícia de Leonardo Lucas Pereira, o Leléo, atualmente foragido da Justiça.

Cinco dias antes do soldado Caio Cordeiro, outro policial militar perdeu a vida numa localidade controlada pela mesma facção. O sargento Ângelo Rodrigues de Azevedo, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), participava de operação na favela Bateau Mouche quando foi atingido por tiros. Levado para o Hospital Getúlio Vargas, também não resistiu aos ferimentos.