O Itaú encerrou, com prejuízo, uma história de mais de 40 anos na Argentina. A saída do maior banco brasileiro do país vizinho se dá em meio a inflação descontrolada, crise social e corrida presidencial.

O anúncio da venda da operação foi feita na noite de quarta-feira (23). O Itaú chegou à Argentina em 1979. À época, as atividades eram voltadas à área de atacado, no financiamento de empresas multinacionais no comércio exterior.

Em 1995, o banco deu início às operações com foco na pessoa física e abriu a primeira agência. Três anos depois, reforçou a atuação com a compra do Banco Del Buen Ayre. Em 2008, nasceu o Itaú Argentina.

As atividades na região, contudo, nunca alcançaram um patamar considerado relevante para o tamanho do banco. A operação do Itaú na Argentina estava entre as menores na América Latina.
Em junho deste ano, a carteira de crédito do banco no país somava R$ 9,1 bilhões, apenas à frente do Panamá (R$ 1,4 bilhão) na América Latina e bem atrás de Chile (R$ 145,6 bilhões) e Colômbia (R$ 27,1 bilhões).

De acordo com o Banco Central da Argentina, em dezembro de 2022, o Itaú Argentina era o 16º maior banco do país, em total de empréstimos em pesos argentinos, e o 11º considerando apenas bancos privados, com uma participação no mercado de 2,1%.

São 67 agências e PABs (postos de atendimento bancário) e 145 caixas eletrônicos no país.
Com operações restritas, somaram-se ao ambiente de negócios do Itaú na Argentina, segundo analistas, a inflação acima de 100% ao ano e a desvalorização cambial, além da recente onda de saques, bem como o risco eleitoral.

O peso desabou e os juros argentinos saltaram no dia 14, na esteira do candidato ultraliberal Javier Milei se tornar o mais votado nas eleições primárias.

“A saída da operação do Itaú na Argentina foi debatida entre os analistas. A corrente majoritária acredita que o Itaú considerou o risco político e de dolarização do país vizinho”, afirma João Frota Salles, analista da Senso Investimentos.

Ao anunciar a venda do negócio na Argentina para o Banco Macro por R$ 250 milhões, o Itaú afirmou que a operação vai gerar um impacto negativo de R$ 1,2 bilhão.

Segundo o banco, o prejuízo decorre do fato de o valor contábil da operação na Argentina ser superior ao valor recebido pela venda. “Como o banco na Argentina foi vendido abaixo desse valor, pode-se interpretar que houve um deságio na operação”, diz Salles.

O analista acrescenta que geralmente o que ocorre é o contrário. Um banco compra o outro pelo valor de mercado, que é maior do que o valor contábil, via de regra, afirma Salles.

No dia seguinte ao anúncio da venda, as ações do Itaú tiveram queda de cerca de 1,2% na Bolsa brasileira, fato que o analista da Senso atribui ao prejuízo na venda do negócio.

“Dadas as perspectivas macroeconômicas dos hermanos, essa pode ter sido a melhor saída possível do país, mesmo com o prejuízo na venda”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus. Ela assinala que a venda libera foco e recursos para outras operações mais relevantes do banco na América Latina.

Analista da Guide, Mateus Haag avalia como neutro o impacto da venda para o Itaú. “A transação já estava no radar do mercado, uma vez que o banco já havia informado em junho que estava em negociação preliminar com o Banco Macro”, diz.

Haag afirma que o negócio é pouco representativo para o balanço do Itaú. As operações de crédito na Argentina correspondem a menos de 1% do total da carteira de crédito do banco.

O Itaú afirmou que tem a intenção de continuar atendendo clientes corporativos locais e regionais, além de indivíduos de wealth e private banking por meio de suas unidades internacionais e que irá buscar a aprovação para abrir um escritório de representação no país vizinho.

“Depois de mais de 40 anos, temos não apenas orgulho da nossa história argentina, mas a clareza de que nossa jornada no país não termina aqui”, afirmou André Gailey, CEO regional do Itaú na Argentina, Paraguai e Uruguai, em comunicado.

Com a aquisição das operações na Argentina, o Macro se consolida como o maior banco privado de capital argentino no país, com 565 agências e 9.400 funcionários e atendendo diariamente 6 milhões de clientes.

“Somos uma empresa argentina que cresce a cada dia e, com a compra do Itaú Argentina, ratificamos nosso compromisso de continuar investindo no país”, disse Jorge Brito, presidente do Banco Macro.

Brito assinalou que, com ativos superiores a US$ 2 bilhões, o Macro é o banco argentino com maior capilaridade no interior do país, com cerca de 80% das agências fora da capital. “Agora, dobraremos nossa presença na área metropolitana de Buenos Aires.”