O estudo será realizado pela Fiocruz em parceria com o Murdoch Children”s Research Institute, da Austrália, com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates. No Brasil, 2 mil voluntários serão recrutados em Mato Grosso do Sul e os outros 1 mil serão do Rio. De acordo com Croda, os voluntários serão acompanhados durante um ano e pessoas que já foram infectadas ou que já tiveram sintomas do vírus não poderão participar.

“Seguimos os modelos de outros estudos e os profissionais de saúde são as pessoas com maior fator de risco para aquisição do vírus. Eles serão acompanhados semanalmente. Este vai ser o maior ensaio clínico de fase 3 usando a BCG”, diz Croda, que até o primeiro semestre integrava a equipe do Ministério da Saúde, na gestão de Luiz Henrique Mandetta. Segundo o pesquisador, dois estudos recentes foram referência para essa pesquisa. “Um estudo realizado na África mostrou que a vacina protege contra infecções e óbitos em curto prazo, no primeiro ano de vida. E outro, que saiu na (revista científica) Cell, mostrando que ela protege infecções virais em idosos. Este foi feito do ano passado até este ano, ainda quando não tinha a circulação do vírus, mas é um estudo importante.”

Segundo Croda, se comprovado o benefício da BCG para o novo coronavírus, a vacina pode se tornar uma opção enquanto o imunizante específico para evitar a doença não é lançado. “Muito provavelmente a BCG não será utilizada no futuro, mas pode ser uma uma alternativa enquanto não tiver nenhuma vacina para a covid-19 ou se não tiver o quantitativo para vacinar bilhões de pessoas. Nesta situação, a BCG poderia ser usada na estratégia ”

Estudo apontou que Brasil teria mais mortes sem obrigatoriedade da vacina
Um estudo da Universidade de Michigan (EUA) apontou que o número de mortes por covid-19 registradas no Brasil poderia ser 14 vezes maior se a BCG não fosse obrigatória no País. O achado foi publicado na revista científica Science. Pesquisas sugerem que a vacina tem efeitos benéficos na imunidade contra infecções pulmonares, o que a tornaria uma candidata importante na prevenção da covid-19.

A Austrália e a Holanda também iniciaram estudos com a vacina com profissionais da saúde para verificar se ela tem eficácia para proteger os indivíduos do novo coronavírus.

Entre os países que adotaram políticas universais de vacinação obrigatória para combater a tuberculose, estão, além do Brasil: China, Irlanda, Finlândia e França. Alguns outros países encerraram as políticas porque a tuberculose deixou de ser uma ameaça, entre eles, Austrália, Espanha, Equador. Outros países nunca exigiram a vacinação contra BCG, são eles EUA, Itália e Líbano. A imunização, nos países onde ela foi adotada, é normalmente administrada no nascimento ou durante a infância para a prevenção contra a tuberculose.

Embora seja obrigatória no Brasil e dada aos recém-nascidos ainda na maternidade, a cobertura vacinal da BCG está registrando queda no País. Conforme mostrou o Estadão, a vacina teve a menor cobertura da série histórica, divulgada desde 1994. Com 85,1% dos bebês vacinados em 2019, foi a primeira vez em 25 anos que ela não alcançou a meta federal de ter 90% dos recém-nascidos protegidos.

Fonte: Banda B