Quem trabalha hoje como motorista por aplicativo em Salvador sabe que é preciso escolher bem a corrida antes de aceitá-la. Isso porque as localidades comandadas pelo crime organizado representam o risco de morte iminente à categoria. No bairro de Saramandaia, por exemplo, o Comando Vermelho controla quem entra e quem sai, afim de evitar ser surpreendido por policiais e rivais, que acessam a região se passando por trabalhadores que fazem o transporte de passageiros através de plataformas. Na Rua do Tubo, atrás de uma famosa madeireira, os faccionados, exibindo fuzis e carabinas, abordam, mesmo durante o dia, veículos com os vidros escuros e com mais duas pessoas.

À noite, a regra é clara: a luz interna deve estar ligada e os vidros abaixados, para evitar que o carro seja fuzilado. E foi isso que aconteceu com o motorista por aplicativo Demeval da Silva Oliveira, 59 anos, no dia 2 deste mês, por volta das 20h. Segundo moradores, ele entrou na região e não cumpriu a determinação e acabou morto após o Sandero ter sido crivado de balas. Para a categoria, lidar com presença do poder paralelo é mais que uma mudança na forma de trabalhar. É literalmente uma questão de sobrevivência.